Carta escrita hoje à uma amiga que assiste às eleições no Brasil e opina pouco pois seu posto de trabalho não permite palpites pessoais.
Querida amiga,
Somos ambas instruídas e competentes, e você ainda mais que eu pois, passar três vezes em concurso público e ganhar mais que o marido apesar da educação à antiga que você teve não
é pra qualquer uma. Me manda o dia e o local que o filme da Renata
passa em Paris com antecedência...vc sabe que sou desmiolada e atualmente bato
asas com frequência. Aqui há trens, tudo fica tentadoramente perto.
De modo que, por exemplo, me candidatei a mão de obra grátis por 10 dias na colheita de oliveiras de um amigo Ítalo-belga onde pretendo colher as azeitonas que produzem o azeite de oliva
mais puro que pode existir na Itália.
Eu
vou com ele, namorada e filhos desde Bruxelles, e volto de Roma num voo charter da Vueling, que custa uma bagatela ou um pouco mais se com direito a uma mala de 23kg, que obviamente vai voltar cheia das latas do azeite puro que cura até icterícia :)
Mas voltando à política
sobre a qual eu sei que vc não pode opinar por conta de sua posição no TRE. Uma propriedade na Europa vale uma fortuna, seja pra plantar de azeitonas, vinhedos ou criar carpas. Improdutiva, obriga o proprietário a impostos altos demais. Quem tem terras ou imóveis paga imposto sobre o patrimônio. Se o proprietário tiver algum comércio, plantação produtiva ou arrendar suas terras, apartamentos e castelinhos, babau, o imposto come tudo.
Isso
faz que, mesmo com a cafona da Direita crescendo brutalmente por aqui
por conta de outros fatores que pouco tem a ver com a arrecadação de impostos, o sistema seja capitalista com reinvestimento social. A economia ainda funciona de forma meio socialista, ainda que governos alternem entre a
Direita e a Esquerda.
No
Brasil rola o contrário: o governo é uma espécie de esquerda operando
em modelo econômico de direita (neoliberal) ié, não incomoda as
grandes fortunas (muito pelo contrário), os impostos cobrados permitem distribuir um pouco
de renda de forma assistencialista e cria programas de desenvolvimento
em quase todos os setores ao preço que sabemos,
claro: endividamento interno, mega impostos sobre serviços e produtos que recaem sobre as classes menos abastadas... É essa privatização galopante, obras bilionárias com
favoritismo, danos ecológicos.
Eu
não sei se o que você teme quando fala da aproximação de nosso modelo
político-econômico ao da Venezuela se refere ao atual governo ou uma
possível ascensão do PSOL em quatro anos. O modelo chavista no meu
entender é pseudo socialista, semi ditatorial, e generoso em corrupção. A crise deles é, de quebra, favorecida pelos EUA.
Não creio que sejam estes os princípios do PSOL, e a
Luciana Genro está pro Chaves como o Mandela pro Silvio Santos :)
Ela fala em "revogabilidade
dos mandatos dos políticos" como visto na Venezuela, e assim
como no nosso atual governo, nem tudo que rola é erro. Essa
revogabilidade é pertinente, acho que rola aqui na França também, a verificar.
Concordo também com a citação do Uruguai - programa/diretrizes no site do PSOL -
quanto a questão de drogas e narcotráfico que joga a vida de tanta gente
jovem e ignorante na cadeia pra virar estropício inútil à sociedade
quando sai de lá. Entre outros.
O lance é que se o PSOL chegasse ao poder os EUA ficariam ouriçadíssimos e se bobear, com o apoio da classe média brasileira melequenta, alinhariam os destróiers deles na baia de Guanabara que nem em
64... nucleares, desta vez, e telecomandados por drones. Sempre em nome da
democracia.
Por isso eu acho que vc deve mandar um "meu bem, vou
comprar cigarro" e passar 10 dias aqui, enquanto não somos invadidos
pelos djihadistas, pois a coisa vai mal pra chuchu. E se pela manhã o marido
parar pra pensar: peraí, ela não fuma... j
á foi, né? Aproveitamos pra
ver a estreia do filme da tua filha e andamos de bicicleta, é quase
de graça aqui, melhor que metrô.
Beijos