segunda-feira, 1 de março de 2010

the player (ou solidariedade francesa)



E então abriu-se a cortina e a comédia começou, Racine par la Racine, uma hora e meia de puro deleite. Em seguida, junto com os atores, caminhamos até um charmoso bar em frente ao teatro e pedimos kir, vinho e coisinhas que se bebe em bar parisiense. Dali pulamos prum bistrô italiano, eu meio sem graça por causa das queixas do diretor e de um dos atores sobre minhas caricaturas mas este mesmo ator topou me acompanhar até uma noitada brasileira de samba de salão, que ele adorou e foi mesmo ótima.

Dia seguinte - eu até a lata de abobrinha sexy nas idéias - saímos de novo. Desta vez o indivíduo anglo-francês não me morde o pescoço como na véspera nem diz boa noite com um suculento beijo na boca, e ficamos só na entrevista, enquanto os copos de vinho branco se esvaziavam e os pratos idem...

Lá pras tantas o elemento revê minhas caricaturas da véspera no caderninho, desaprova a sua própria ainda uma vez e vai se tornando zombador e distante, assume sua metade inglesa, talvez, e uma das sombrancelhas se arqueia, olhando-me com superioridade e desdém jocoso.

Fui ficando com frio, incomodada, ele continuava a desafiar minha estabilidade sei lá pra que, mas com sucesso absoluto, até que escrevi no meu caderninho que prefiro conversa boa, simples e direta e esfreguei na cara dele !

E engoli uma lágrima, pra não dar tanta importância. Ele então saiu da pose, voltou ao personagem francês, bem mais humano e me perguntou se eu queria dormir na casa dele, uma, duas vezes e depios assumiu que não era uma pergunta, mas sim um convite.

Técnicamente eu tava louca de vontade. Afetivamente estava gelada. Desci as escadas e liguei pro meu guru Parisiense, Dean.

- Que qu'eu faço??? O cara ficou snob por uns instantes, me desequilibrou, sinto-me atraída desde que o vi mas mas não o suficiente pra ir pra casa dele e...

E ... naquele momento sai pela porta do banheiro masculino um francês enorme, trajado por completo, sapato de couro, manteau longo e uma simpática barba por fazer. Arrisquei um olhar de s.o.s, ele entendeu e veio até mim sem titubear:

- Mademoiselle, se não se sente segura não deve aceitar.

- S-s-sim... (gaguejei, celular na mão e guru na linha)

E o terapeuta de improviso continuou:

- Aqui dizemos que deve-se sorver a sopa aos pouquinhos para não queimar os lábios.

- É isso que eu precisava ouvir, monsieur, muito gentil o seu aparte! Dean, já está resolvido, não passo a noite com o suplicante, merci beaucoup, até amanhã!

Et vive la France!!!!

Amanhã será outro dia, parisiense, sim senhor. Quem afirma que os europeus são frios, distantes e individualistas está redondamente enganado! Gente muitíssimo solidária, até em porta de banheiro se ouve bons conselhos por aqui!