domingo, 16 de agosto de 2015

Grécia 1.

Carta pra Daniel Nicolaevsky

Miss Conforama é criativa como um pacote de Starbuck chips? Não me surpreende ou, assim caminha a humanidade, como diria Zaratustra, se dissesse algo que pudéssemos ler hoje.

Se encontrar os trechos de Foucault que falam dos quatro poderes que enquadram os homens na sociedade, escola, igreja, prisão, manicômio, não necessariamente nessa ordem, separa pra mim, please, e se quiser perder peso não venha pra Grécia ! Carneiro na brasa, polvo com tomates e azeitonas, moussaka, vinhos geladinhos produzidos no quintal das casas, feta grelhado, torta de nozes com figos que caem no chão de tão maduros... 

Deve ser dos poucos países ainda intocados pelas guerras atuais cuja arquitetura não evoluiu. A natureza é totalmente preservada, os monges saboreiam os livros sagrados com suas vozes doces de dois mil anos, as pessoas engordaram por causa dos hambúrgueres americanos com fritas mas a cozinha local continua espetacular. Iogurte  grego fresquinho, as frutas caindo nas calçadas de terra ocre, figos, uvas e as trepadeiras floridas mais variadas que já vi sobem nos telhados pra despencar-se no chão. Guirlandas garantem sombra pras varandas onde os velhinhos de banho tomado aguardam a noite fofocando amenidades enquanto idosas rechonchudas passam pra e pra cá vestidas de preto. 

Vive-se muito. Os idosíssimos casais sentam nas escadas e apreciam longamente no horizonte as montanhas escarpadas com aldeias de pedra, árvores rechonchudas e esguios ciprestes, cabras de todas as cores com chifres engraçados, veados, pôneis. Nas escadarias, gatos sem fim, e as cigarras estrebucham o dia todo tentando se livrar das carapaças. 
A maior cidade, Atenas, é ainda muito pequena e quase bucólica perto das cidades dos países "desenvolvidos". Desenvolvidos uma ova, quanto mais se julgam assim mais estrago fazem então viva o mundo meio parado e os painéis solares !!!!! Custam tão pouco aqui; tenho vontade de levar um conosco no voo de volta pra Paris. E pregá-lo no telhado do prédio que moramos na rua Bachaumont. Só em sonho, claro. A co-propriedade barra qualquer coisa criativa ou evolutiva por princípio. Conforama.

Sim, tem também esse mar azul turquesa tão salgado que entendo porque Jesus com andava sobre as ondas sem muito esforço. Do outro lado da margem da ilha de Samos fica a Turquia.  Os ferries vão e vem abarrotados de turistas e refugiados.
O futuro anda muito incerto. Os figos ainda são doces. O destino das pessoas não.