segunda-feira, 19 de abril de 2010

Esnobes e racistas, quem, os cariocas ?


Uma época eu andei juntada com um negão, ou neguinho, como eu costumava dizer pra ele com os olhos fervendo de paixão e ele respondia: "- Leo, não me chama neguim em público que só você diz isso sem preconceito." E foi nessa época que descobri o racismo aqui no Rio de Janeiro. Numa ocasião, nós estávamos na casa do Bob Nadkarni, na favela Tavares Bastos, reduto de jam sessions disputadíssimas entre gringos e mauricinhos do asfalto, acompanhados por três fotógrafos Italianos que eu guiava pelo Rio. Depois de uns minutos de papo com um conhecido diretor de fotografia que perambulava mui altivo por lá, veio a pergunta:
- Você está aqui com quem?
- Com meu namorado e três fotógrafos que estou guiando. (apontei a murada do sobrado onde estavam os quatro rapazes sentados lado a lado)
- Qual deles é o seu namorado?
- Herrr... qual você acha que é?
- O da direita (apontando pra um dos Italianos)
- Não.
- O do lado dele.
- Não.
- O do meio.
- Também não.
- Ué, então quem é?

Pois é... O negro é não podia ser...

Teve uma senhora que conhecia meus pais e me disse que soubera que eu estava casada com um "rapaz de cor". Eu confirmei. Ela retrucou, "- De onde ele é?" "-Como assim", perguntei eu e ela insistiu: "- Ele é estrangeiro, não é?"

Certamente... pra ser aceitável deve ser importado... Me dava conta dos olhares que nos dirigiam as pessoas que cruzávamos na rua, olhares de desprezo, de incredulidade, curiosidade ou pelo belo casal que fazíamos ou quem sabe de inveja mesmo.

Em Santa Teresa fomos parados por uma patrulha de quatro policiais com trabuco pra fora das janelas, que saíram do Fusquinha Patamo olhando fixamente pro meu namorido. Aproximaram-se do nosso grupo e me perguntaram, apontando pra ele: "- Ele está com vocês?"

E se não estivesse teria tomado uma geral ali mesmo, sem mais sem menos.

E aquele publicitário que conheci em Visconde de Mauá tempos atrás, junto com sua esposa, esnobentos. Esse só pode ter me mandado convite pro aniversário dele no Fiorentina, do Leme, por engano. E eu fui, de propósito. Cheguei lá acompanhada do dito namorado e o aniversariante me reconhece, olha pra mim e em seguida pro meu acompanhante e pergunta espantado: "- O que você tá fazendo aqui?"

Racistas, nós? Imagina !

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